quarta-feira, 20 de julho de 2011

A poesia em 2011:Vítor Nogueira

Osso queimado



Osso queimado e moído com água
é sombra para rostos delicados. A figura corre,
leva força e sentimentos nas pernas, ultrapassa
o velho do umbigo. Não é só uma actividade
vigorosa, contrária ao efeito da manhã,
é o jogging, senhoras e senhores, com toda
a responsabilidade que isso implica: evitar
becos sem saída, conservar a energia para
o sprint final. Entretanto, olhos pendurados
em todas as árvores, a figura desliza admirável,
chips subcutâneos, coisas assim, sensacionais.
Mas a verdade é que as pessoas vêm e vão,
seguem até onde ou porquê não saibamos.
É a única maneira de escapar a tudo isto.



(Telhados de Vidro, nº 15, Averno, Lisboa, 2011, p.62)

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