domingo, 10 de julho de 2011

A poesia em 2011: Rui Lage

As colchas ricas formando troféu



Intermináveis nos terraços
de onde se vê o céu mobilado,
ou debruçadas em varandas penitentes,
pintam as unhas, alheias à rua
que entre nimbos e pedra levada
do adro aos metais do coreto,
com vagar de alimária
tocada de sombras hirsutas,
vai passando a trote de andor
à frente o compasso
atrás a fanfarra.

Fechadas em casas de banho
dedilham telemóveis
com destreza de pianistas.

Em vez de flores no cabelo,
auriculares.



(Um arraial português, Ulisseia, Lisboa, 2011, p. 26).

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