segunda-feira, 25 de junho de 2012

A poesia em 2012: Miguel-Manso

Jardim dos Heréticos



vai dia trás dia e é boa altura, esta

para ler Sá de Miranda
pois que é tosca a pátria, a língua é muda
e aquela verdura minha se ensarilha no produto
interno da bruteza nacional

mais cousa menos verso
e ficarei sem quinhão algum, faço as malas
para o escuro território desse

íntimo inalterável

porção concebida de amor negro, luminar
que troquei pronto por essa desarmonia rapace
que catava e urdia a longeva posteridade

para a poesia se vai a pé
cabeça nua, mãos vazias, pasmando até à morte
como quem reúne face a face com o mal
- asseguro-lhe, Ex.ª, este mal de que falo está cheio da graça que procura -
e é preciso considerar como sã e generosa
a ordem de expulsão do paradiso

seja o perdido, perdido; seja aqui o que começa



(Ensinar o caminha ao diabo, Lisboa, edição do autor, p.86).

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