quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A poesia em 2011: Manuel da Silva Ramos

Equipado para morrer



deixei a minha casa
equipado para morrer
mas não morri

saí do café trivial
equipado para morrer
mas não morri

pus-me à espera do eléctrico
equipado para morrer
mas não morri

entrei no meu emprego
equipado para morrer
mas não morri

saí do meu emprego
equipado para morrer
mas não morri

apanhei o autocarro
equipado para morrer
mas não morri

entrei no bar
equipado para morrer
mas não morri

regressei a casa
equipado para morrer
mas não morri

deitei-me na minha cama
equipado para morrer
e não morri



(Golpe d'asa, CLEPUL e GOLPE Edições, Lisboa, novembro, 2011, p. 21).

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