segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Carlos Queirós

Anti-soneto


Ao Mário Saa



O nosso drama de portugueses,
O nosso maior drama entre os maiores
Dos dramas portugueses,
É este apego hereditário à Forma:
Ao modo de dizer, aos pontinhos nos ii,
Às vírgulas certas, às quadras perfeitas,
À estilística, à estética, à bombástica,
À chave de ouro do soneto vazio
- Que põe molezas de escravatura
Por dentro do que pensamos
Do que sentimos
Do que escrevemos
Do que fazemos
Do que mentimos.



(Poemas portugueses. Antologia da poesia portuguesa do séc. XIII ao séc. XXI, selecção, organização, introdução e notas de Jorge Reis-Sá e Rui Lage, prefácio de Vasco da Graça Moura, Porto Editora, Porto, 2009, p. 1291).

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