sábado, 12 de outubro de 2013

Bater em mortos

No Atual de hoje há uma ideia interessante que é desperdiçada: lembrar autores esquecidos ou desprezados e colocar no devido lugar, ou seja, lá em baixo, os que têm merecido uma atenção pública e/ou crítica notoriamente exagerada. E porquê desperdiçada? Pricipalmente por dois motivos. Primo: porque cada crítico só pôde referir dois nomes. Bem sei que é melhor resgatar da obscuridade um só em vez de nenhum. Mas, caros amigos, podiam ter ampliado um bocadinho mais a coisa, não? Assim, sendo cinco os críticos, só teríamos, na melhor das hipóteses, dez autores em destaque. Nem isso chega a acontecer, pois o nome de Teresa Veiga é coincidente nas escolhas de Pedro Mexia e Ana Cristina Leonardo. Clara Ferreira Alves avança apenas com o nome de Alexandre O'Neill (esquecido? Não vejo por quem. Subavaliado? É tudo uma questão de perspectiva...) e denuncia justificadamente a paz podre em que o meio literário português vai vegetando (mas a culpa não é só da Ler, é um bocadinho mais complexo do que isso). Tudo somado: oito nomes postos na ribalta. O'Neill (C. Ferreira Alves); Alexandre Andrade e Carlos de Oliveira (José Mário Silva); Rui Knopfli e Teresa Veiga (Pedro Mexia); Fernando Campos e Pedro A. Vieira ( Luísa Mellid-Franco) e Ferreira de Castro e Teresa Veiga de novo (Ana Cristina Leonardo). Não conheço, não li todos os autores, por isso nada a obstar. De qualquer maneira, teria preferido listagens sem repetição de nomes e mais generosas (Aquilino é um imenso escritor fora de moda; ainda se lê Manuel da Fonseca? E Soeiro Pereira Gomes? Cinatti? Raul de Carvalho? António José Forte? E Alberto Pimenta, vivo graças a Deus, é lido como deve ser?). Secundo: porque se faz sentido falar dos mortos para os resgatar da miséria e da injustiça do pesado manto do esquecimento, já desaproveitar a aportunidade de chegar a roupa ao pêlo a tantos grandes autores vivos que por aí andam (em capas de suplementos literários, em festivais de literatura, etc) e, em vez disso, malhar em gente que já cá não está, parece-me tempo e energia deitados fora. Mas foi a opção de três dos críticos. É um ver se te avias: C. Ferreira Alves zurze em Torga; José Mário Silva no Fernando Pessoa ortónimo e P. Mexia, em dose dupla, em Florbela Espanca e Sttau Monteiro. Acho mal: e não tanto porque os visados não poderão retrucar ou desafiar os críticos para um duelo. Sobretudo porque estes poderiam ter usado o espaço do jornal para bater em quem está vivo e merece umas valorosas bengaladas. Só Luísa Mellid-Franco e Ana Cristina Leonardo, justiça lhes seja feita, afinfam em António Lobo Antunes, José Rodrigues dos Santos, José Luís Peixoto e Valter Hugo Mãe (este último também é visado por C. F Alves). Mas até estas escolhas não são propriamente surpreendentes. Tudo somado, fiquei com curiosidade de ler Alexandre Andrade e Teresa Veiga. E pergunto: então afinal não há mais nada? Dá vontade de citar o Herberto. Porra.



(Post scriptum: Nuno Júdice é tratado assim-assim por José Mário Silva. Fico na dúvida se o crítico critica negativamente. Parece-me mais um empate técnico. Uma no cravo, outra na ferradura... Não é fácil dizer mal).

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