A província
1. Chaves
Qual a virtude
das cidades pequenas?
A bondade das sestas?
A excelência de almoços
nos fins de semana?
A melancolia do crepúsculo
no traço das serras?
Se outros preferem
mediocridade mais anónima
haverá quem pense
que algum sítio
é bom para viver.
Ou nenhum.
O que é o mesmo.
2. Chá (e um epigrama de Palladas)
As tias do Castelejo
não permitiam que as visitas
saíssem sem beber
xícaras de chá forte e açucarado
- eu tinha por esse chá a devoção
e o entusiasmo de um prosélito.
Agora, que lavam os pires
nas ribeiras do paraíso
e eu substituí a tal infusão
benévola por sublimados bárbaros,
estarei também já morto
e a vida é um sonho,
ou estarei vivo
e foi a vida que morreu?
(Telhados de Vidro, nº 15, Averno, Lisboa, pp. 29-30).
domingo, 24 de julho de 2011
quarta-feira, 20 de julho de 2011
A poesia em 2011:Vítor Nogueira
Osso queimado
Osso queimado e moído com água
é sombra para rostos delicados. A figura corre,
leva força e sentimentos nas pernas, ultrapassa
o velho do umbigo. Não é só uma actividade
vigorosa, contrária ao efeito da manhã,
é o jogging, senhoras e senhores, com toda
a responsabilidade que isso implica: evitar
becos sem saída, conservar a energia para
o sprint final. Entretanto, olhos pendurados
em todas as árvores, a figura desliza admirável,
chips subcutâneos, coisas assim, sensacionais.
Mas a verdade é que as pessoas vêm e vão,
seguem até onde ou porquê não saibamos.
É a única maneira de escapar a tudo isto.
(Telhados de Vidro, nº 15, Averno, Lisboa, 2011, p.62)
Osso queimado e moído com água
é sombra para rostos delicados. A figura corre,
leva força e sentimentos nas pernas, ultrapassa
o velho do umbigo. Não é só uma actividade
vigorosa, contrária ao efeito da manhã,
é o jogging, senhoras e senhores, com toda
a responsabilidade que isso implica: evitar
becos sem saída, conservar a energia para
o sprint final. Entretanto, olhos pendurados
em todas as árvores, a figura desliza admirável,
chips subcutâneos, coisas assim, sensacionais.
Mas a verdade é que as pessoas vêm e vão,
seguem até onde ou porquê não saibamos.
É a única maneira de escapar a tudo isto.
(Telhados de Vidro, nº 15, Averno, Lisboa, 2011, p.62)
terça-feira, 19 de julho de 2011
A poesia em 2011: José Carlos Barros
chove mais uma vez
chove mais uma vez
oiço lá fora o barulho da água a correr nas caleiras
a espalhar-se nos passeios de cimento
estou na sala da casa da
minha avó
passo a ponta dos dedos pela gravura
japonesa da tampa da
caixa de costura
há um único livro
a velhice do padre eterno
os versos do meu pai em folhas quase
transparentes
chove mais uma vez
a infância é um pássaro aceso nos ramos das árvores
um território de meteoros incendiados
numa bacia de plástico
com água
da chuva
(Rumor, edição do autor, 2011, p. 20).
chove mais uma vez
oiço lá fora o barulho da água a correr nas caleiras
a espalhar-se nos passeios de cimento
estou na sala da casa da
minha avó
passo a ponta dos dedos pela gravura
japonesa da tampa da
caixa de costura
há um único livro
a velhice do padre eterno
os versos do meu pai em folhas quase
transparentes
chove mais uma vez
a infância é um pássaro aceso nos ramos das árvores
um território de meteoros incendiados
numa bacia de plástico
com água
da chuva
(Rumor, edição do autor, 2011, p. 20).
segunda-feira, 18 de julho de 2011
A poesia em 2011: Henrique Manuel Bento Fialho
Bella Akhamadulina a Yevgeny Yevtushenko, muito antes de ter conhecido Boris Messerer
A esse pássaro que canta nas árvores
apetece-me atirar pedras,
a ver se de uma vez por todas
ele se decide por voar mais do que canta.
A esse pássaro de gaiola
apetece-me envenenar a alpista,
a ver se lhe alivio as dores
de tanto esbarrar contra as grades.
Só à águia embalsamada na taberna
da Francisca nada me apetece fazer.
Fico a olhá-la como a um espelho.
E nada me apetece fazer.
(A dança das feridas, Colecção Insónia, 2011, p. 21)
A esse pássaro que canta nas árvores
apetece-me atirar pedras,
a ver se de uma vez por todas
ele se decide por voar mais do que canta.
A esse pássaro de gaiola
apetece-me envenenar a alpista,
a ver se lhe alivio as dores
de tanto esbarrar contra as grades.
Só à águia embalsamada na taberna
da Francisca nada me apetece fazer.
Fico a olhá-la como a um espelho.
E nada me apetece fazer.
(A dança das feridas, Colecção Insónia, 2011, p. 21)
sábado, 16 de julho de 2011
Arcade Fire: entre a poeira e a lua cheia
Começou assim:
Prosseguiu assim (mas com toneladas de poeira cinzenta à mistura):
E terminou assim: "Fucking hell! Thank you. It´s shows like this one that reminds you why you dit it in the first place..." (Win Butler)
Prosseguiu assim (mas com toneladas de poeira cinzenta à mistura):
E terminou assim: "Fucking hell! Thank you. It´s shows like this one that reminds you why you dit it in the first place..." (Win Butler)
quinta-feira, 14 de julho de 2011
Beirut
Hoje não me importava nada de estar no meio da poeirada do Meco para ouvir isto... E isto:
quarta-feira, 13 de julho de 2011
terça-feira, 12 de julho de 2011
A poesia em 2011: Herberto Helder
os cães gerais ladram à luas...
os cães gerais ladram às luas pelos desertos fora,
mas a gota de água treme e brilha,
não uses as unhas senão nas linhas mais puras,
e a grande Constelação do Cão galga através da noite do mundo cheia de ar
[e de areia
e de fogo,
e não interrompe ministério nenhum nem nenhum elemento,
e tu guarda para a escrita a estrita gota de água imarcescível
contra a turva sede da matilha,
com a tua linha limpa cruzas cactos, escorpiões, árduos buracos negros:
queres apenas
aquela gota viva entre as unhas,
enquanto em torno sob as luas os cães cheiram os cus uns aos outros
à procura do ouro
os cães gerais ladram às luas pelos desertos fora,
mas a gota de água treme e brilha,
não uses as unhas senão nas linhas mais puras,
e a grande Constelação do Cão galga através da noite do mundo cheia de ar
[e de areia
e de fogo,
e não interrompe ministério nenhum nem nenhum elemento,
e tu guarda para a escrita a estrita gota de água imarcescível
contra a turva sede da matilha,
com a tua linha limpa cruzas cactos, escorpiões, árduos buracos negros:
queres apenas
aquela gota viva entre as unhas,
enquanto em torno sob as luas os cães cheiram os cus uns aos outros
à procura do ouro
domingo, 10 de julho de 2011
A poesia em 2011: Rui Lage
As colchas ricas formando troféu
Intermináveis nos terraços
de onde se vê o céu mobilado,
ou debruçadas em varandas penitentes,
pintam as unhas, alheias à rua
que entre nimbos e pedra levada
do adro aos metais do coreto,
com vagar de alimária
tocada de sombras hirsutas,
vai passando a trote de andor
à frente o compasso
atrás a fanfarra.
Fechadas em casas de banho
dedilham telemóveis
com destreza de pianistas.
Em vez de flores no cabelo,
auriculares.
(Um arraial português, Ulisseia, Lisboa, 2011, p. 26).
Intermináveis nos terraços
de onde se vê o céu mobilado,
ou debruçadas em varandas penitentes,
pintam as unhas, alheias à rua
que entre nimbos e pedra levada
do adro aos metais do coreto,
com vagar de alimária
tocada de sombras hirsutas,
vai passando a trote de andor
à frente o compasso
atrás a fanfarra.
Fechadas em casas de banho
dedilham telemóveis
com destreza de pianistas.
Em vez de flores no cabelo,
auriculares.
(Um arraial português, Ulisseia, Lisboa, 2011, p. 26).
sexta-feira, 8 de julho de 2011
A poesia em 2011: Jorge Reis-Sá
"Terei a coragem de Pavese..."
Terei a coragem de Pavese para deixar
tudo preparado e partir? Um diário
com todas as indicações de que o fim
se aproxima e a passos muito largos,
a reunião de toda a poesia num original
devidamente encapado e pronto a ser
editado na Einaudi. Trabalhar cansa.
Aceito. Mas cansa mais não fazer nada.
Terei a coragem de Pavese para deixar
tudo preparado e partir? Um diário
com todas as indicações de que o fim
se aproxima e a passos muito largos,
a reunião de toda a poesia num original
devidamente encapado e pronto a ser
editado na Einaudi. Trabalhar cansa.
Aceito. Mas cansa mais não fazer nada.
(Mulher moderna, Ulisseia, Lisboa, 2011, p. 33)
quarta-feira, 6 de julho de 2011
A poesia em 2011: Rosa Alice Branco
O cão que me tinha
Eu tive um cão ou era ele
que me tinha e me deixava à solta
guiada sem saber que ia.
Tomava as minhas feridas,
a tristeza que eu pudesse ter
e sofria dela como eu nem sofria.
Trocava de mal trocando-lhe as voltas.
Punha a coleira ao pescoço
e levava-me a passear
como se eu fosse o dono.
E à noite dormia no chão
ou então fingia. Eu acordava
com um servo aos pés da cama,
armava-me em amo
e era ele que me tinha.
Exímio no silêncio
e no uso das armas
com que me defendia
de todos e também de mim:
a linha veloz do pêlo luzidio,
o frémito da língua,
o focinho em arco para a escuta.
Era um cão que me tinha
e uma tarde de verão
atirei-lhe um osso gostoso
anter de o deixar no canil.
(Gado do Senhor, &etc, Lisboa, 2011, p. 13).
Eu tive um cão ou era ele
que me tinha e me deixava à solta
guiada sem saber que ia.
Tomava as minhas feridas,
a tristeza que eu pudesse ter
e sofria dela como eu nem sofria.
Trocava de mal trocando-lhe as voltas.
Punha a coleira ao pescoço
e levava-me a passear
como se eu fosse o dono.
E à noite dormia no chão
ou então fingia. Eu acordava
com um servo aos pés da cama,
armava-me em amo
e era ele que me tinha.
Exímio no silêncio
e no uso das armas
com que me defendia
de todos e também de mim:
a linha veloz do pêlo luzidio,
o frémito da língua,
o focinho em arco para a escuta.
Era um cão que me tinha
e uma tarde de verão
atirei-lhe um osso gostoso
anter de o deixar no canil.
(Gado do Senhor, &etc, Lisboa, 2011, p. 13).
terça-feira, 5 de julho de 2011
A poesia em 2011: Ana Paula Inácio
Acrobacias
sentados em Trafalgar Square
no intervalo de amigos
com o tempo entre as mãos
treinávamos o inglês
num inquérito de revista
com Francis Bacon na capa
que perguntava:
qual dos membros
- superiores ou inferiores -
preferíamos perder
(esta ablação em língua estrangeira
torna-se indolor, quase anestesiada)
respondeste: os braços
as pernas conservá-las-ia
como a liberdade de poder andar
respondi: as pernas
não queria ver-me
impedida de abraçar.
Assim juntando as nossas
perdas
eu abraço-me a ti
e peço-te anda, mostra-me o mundo
e quando nos cansarmos
abraçar-me-ás, então, com as pernas
e eu
andarei com os braços.
(2010-2011, Averno, Lisboa, 2011, p.34; inicialmente publicado em Telhados de Vidro, Averno, nº 3, Novembro, 2004, Lisboa, p. 19).
sentados em Trafalgar Square
no intervalo de amigos
com o tempo entre as mãos
treinávamos o inglês
num inquérito de revista
com Francis Bacon na capa
que perguntava:
qual dos membros
- superiores ou inferiores -
preferíamos perder
(esta ablação em língua estrangeira
torna-se indolor, quase anestesiada)
respondeste: os braços
as pernas conservá-las-ia
como a liberdade de poder andar
respondi: as pernas
não queria ver-me
impedida de abraçar.
Assim juntando as nossas
perdas
eu abraço-me a ti
e peço-te anda, mostra-me o mundo
e quando nos cansarmos
abraçar-me-ás, então, com as pernas
e eu
andarei com os braços.
(2010-2011, Averno, Lisboa, 2011, p.34; inicialmente publicado em Telhados de Vidro, Averno, nº 3, Novembro, 2004, Lisboa, p. 19).
segunda-feira, 4 de julho de 2011
A poesia em 2011: Diogo Vaz Pinto
Sorrir no inferno
Chamem-lhes domingos ou dias de doce fadiga.
Não é mais fácil esquecer a vida, mas é o que temos
de mais parecido com o descanso que a morte promete.
Visto-me tão mal quanto possa e vou
subindo a rua mais sinuosa, não há pressa. Observo
gatos a vadiarem por entre curtas sensações de paz,
passando à porta dos tugúrios onde me deixo
sentado a um canto enovelando uma série de pensamentos
- como discos riscados - a tocarem para estas espessas
horas de falência, bebidas e, a intervalos, mijadas
no urinol. Tenho o suficiente se me apetecer cair
sem peso, voar pelo chão, sorrir no inferno.
Mantenho um discurso de circunstância,
invento personagens fictícias que me ouvem atentamente
e vou quebrando o sigilo, amadurecendo teorias.
Deixo-me entusiasmar e crescer
planeando o contra-ataque, a revolução...
Mas assim que atinjo o ponto mais alto, os próprios
companheiros que me inventei vão virando os bolsos,
sacodem de leve as calças e levantando-se passam por mim,
deixam cair uma mão fria no meu ombro
e despedem-se abanando a cabeça.
Vejo-me de novo a sós, enfrentando um copo vazio
e uma folha de papel amassada. Uma vez mais
sinto inveja dos doidos a sério. Parece que eu só sonho
e acordo. E tudo o que sei é anotar as cinzas.
(Nervo, Averno, Lisboa, 2011, p. 117)
Chamem-lhes domingos ou dias de doce fadiga.
Não é mais fácil esquecer a vida, mas é o que temos
de mais parecido com o descanso que a morte promete.
Visto-me tão mal quanto possa e vou
subindo a rua mais sinuosa, não há pressa. Observo
gatos a vadiarem por entre curtas sensações de paz,
passando à porta dos tugúrios onde me deixo
sentado a um canto enovelando uma série de pensamentos
- como discos riscados - a tocarem para estas espessas
horas de falência, bebidas e, a intervalos, mijadas
no urinol. Tenho o suficiente se me apetecer cair
sem peso, voar pelo chão, sorrir no inferno.
Mantenho um discurso de circunstância,
invento personagens fictícias que me ouvem atentamente
e vou quebrando o sigilo, amadurecendo teorias.
Deixo-me entusiasmar e crescer
planeando o contra-ataque, a revolução...
Mas assim que atinjo o ponto mais alto, os próprios
companheiros que me inventei vão virando os bolsos,
sacodem de leve as calças e levantando-se passam por mim,
deixam cair uma mão fria no meu ombro
e despedem-se abanando a cabeça.
Vejo-me de novo a sós, enfrentando um copo vazio
e uma folha de papel amassada. Uma vez mais
sinto inveja dos doidos a sério. Parece que eu só sonho
e acordo. E tudo o que sei é anotar as cinzas.
(Nervo, Averno, Lisboa, 2011, p. 117)
domingo, 3 de julho de 2011
A poesia em 2011: António Barahona
Perpétuo sem descanso
Contigo nos meus braços
sou capaz de atravessar paredes,
tornar-me invisível,
fazer milagres.
(O som do sôpro, Poesia Incompleta, Lisboa, 2011, p. 84).
Contigo nos meus braços
sou capaz de atravessar paredes,
tornar-me invisível,
fazer milagres.
(O som do sôpro, Poesia Incompleta, Lisboa, 2011, p. 84).
sábado, 2 de julho de 2011
A poesia em 2011: Manuel de Freitas
Os poetas
Fevereiro de 2011: fiquei a saber
por uma revista de merda, que
"os poetas não são tipos normais"
(vinha na capa da tal revista).
É um bocadinho discutível;
os poetas fodem, cagam,
gostam ou não gostam
de francesinhas e marujos.
Têm, como toda a gente, de vigiar
o colesterol e de pagar impostos.
Porém, e antes mesmo de haver verbo,
há poetas e puetas. Há-os
gestores, contentinhos, polivalentes
- assim como os há revoltados,
insubmissos, crus e sem saída.
Uns acreditam nas palavras,
outros calam-se. Uns ministros,
outros deputados, mas capazes
(quase todos) de prefaciar mendigos
que olharam de frente o sol.
Os poetas morrem - e isso,
à falta de melhor, torna-os bastante normais.
(Público, 07.05.2011. Lido aqui).
para o Ricardo Álvaro
Fevereiro de 2011: fiquei a saber
por uma revista de merda, que
"os poetas não são tipos normais"
(vinha na capa da tal revista).
É um bocadinho discutível;
os poetas fodem, cagam,
gostam ou não gostam
de francesinhas e marujos.
Têm, como toda a gente, de vigiar
o colesterol e de pagar impostos.
Porém, e antes mesmo de haver verbo,
há poetas e puetas. Há-os
gestores, contentinhos, polivalentes
- assim como os há revoltados,
insubmissos, crus e sem saída.
Uns acreditam nas palavras,
outros calam-se. Uns ministros,
outros deputados, mas capazes
(quase todos) de prefaciar mendigos
que olharam de frente o sol.
Os poetas morrem - e isso,
à falta de melhor, torna-os bastante normais.
(Público, 07.05.2011. Lido aqui).
sexta-feira, 1 de julho de 2011
A poesia em 2011: José Manuel de Vasconcelos
Salão de chá
Ainda havemos de ter saudades da rapariga
a caminhar para a meia idade
quando já não nos conseguirmos levantar
sem o uivo dos bosques queimados do nosso prazer
É certo que era mais ardente quando subia
as escadas e nos trazia madalenas
mais plebeia a graça das suas pernas de canela,
mas por desgraça o tempo é um combustível
uma tortura de cruas catapultas
que a todos aturdidamente atinge, e chegará o dia
em que silencioso e apenas recordado o riso
da velha rapariga nos parecerá o brilho do sol
(comentário a um poema de Ezra Pound)
Ainda havemos de ter saudades da rapariga
a caminhar para a meia idade
quando já não nos conseguirmos levantar
sem o uivo dos bosques queimados do nosso prazer
É certo que era mais ardente quando subia
as escadas e nos trazia madalenas
mais plebeia a graça das suas pernas de canela,
mas por desgraça o tempo é um combustível
uma tortura de cruas catapultas
que a todos aturdidamente atinge, e chegará o dia
em que silencioso e apenas recordado o riso
da velha rapariga nos parecerá o brilho do sol
(A mão na água que corre, Assírio & Alvim, Lisboa, 2011, p. 15).
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