Jardim dos Heréticos
vai dia trás dia e é boa altura, esta
para ler Sá de Miranda
pois que é tosca a pátria, a língua é muda
e aquela verdura minha se ensarilha no produto
interno da bruteza nacional
mais cousa menos verso
e ficarei sem quinhão algum, faço as malas
para o escuro território desse
íntimo inalterável
porção concebida de amor negro, luminar
que troquei pronto por essa desarmonia rapace
que catava e urdia a longeva posteridade
para a poesia se vai a pé
cabeça nua, mãos vazias, pasmando até à morte
como quem reúne face a face com o mal
- asseguro-lhe, Ex.ª, este mal de que falo está cheio da graça que procura -
e é preciso considerar como sã e generosa
a ordem de expulsão do paradiso
seja o perdido, perdido; seja aqui o que começa
(Ensinar o caminha ao diabo, Lisboa, edição do autor, p.86).
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